Uma Multidão de Solitários

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Uma Multidão de Solitários

Atualmente é muito comum ver as pessoas olhando para os seus celulares. Como está a vivência das pessoas frente as redes sociais? Iniciam e terminam relacionamentos na vida real, bem como o iniciam e terminam relacionamentos nas redes sociais. As relações estão superficiais e descartáveis.

Os relacionamentos se escorrem pelas pessoas, assim como a água que flui entre os dedos, basta um clique para se desfazer de uma amizade. Um clique para você iniciar um relacionamento amoroso e um outro clique para terminá-lo. As pessoas estão tão imediatistas que em segundos fazem diversos amigos, postam coisas e recebem várias curtidas. A angústia da vez é postar algo e não receber curtidas.

Nos reconhecemos através do outro, mas como fica quando não nos conhecemos de verdade? Na fase do espelho, logo na primeira infância, é quando a criança se vê diante do espelho e se reconhece, se percebe como um indivíduo, e se admira:

- Uau eu existo!

Assim como na mitologia grega, conta a história de Narciso que admira a própria beleza através do espelho d’agua, as pessoas tem se admirado.

E nas redes sociais a pessoa espera a mesma coisa, se reconhecer através do outro. Os mais narcísicos postam selfs a todo momento e esperam a admiração dos demais. É uma era que cultua a beleza. Não vivem mais o ser e sim o ter ou até mesmo fingir que tem. Fingir que tem carros, casas, comer em bons restaurantes, ter um corpo bonito, ter o melhor celular e assim por diante... a vibe do momento não é necessariamente ter, mas fingir que tem. Algumas pessoas não superam as frustrações e acabam se encontrando numa depressão. Muitas vezes por não conseguir encarar tais angústias de frente e num primeiro momento se lamentam.

Vemos com freqüência, as pessoas falarem tudo que desejam nas redes sociais, acreditando na falsa segurança que nelas é proporcionado. Todavia, pessoalmente não tem coragem de enfrentar o olhar e o julgamento do outro, péssimos em relacionamento interpessoal.

Ninguém posta as dificuldades que enfrentam no cotidiano, como o carro sem gasolina, a falta de dinheiro no final do mês. E eu pergunto, por quê?

Antigamente era mais fácil ver as crianças brincando de correr e pular. Hoje é mais fácil ver uma criança atrás de joguinhos de celular e vídeo game. Os pais reclamam que a criança não saem do celular, mas daí eu pergunto:

- Quem deu o celular, o tablet?

A criança aprende desde pequena a não se relacionar, a não enfrentar a frustração de ter que esperar. É triste, mas é a realidade em que vivemos. Crescerão e se frustração, serão adultos com baixa resiliência.

Vivemos com várias máscaras, montamos uma persona (Jung trás esta nomenclatura) e muitos  a vivem como se aquilo fosse real.

Por que viver de aparências? Não podemos simplesmente colocar a culpa na tecnologia e achar que tirando esse artifício de nossas vidas estará tudo resolvido. Muito pelo contrário a tecnologia nos ajudou e muito a facilitar o nosso cotidiano. Mas devemos usar com parcimônia e sabedoria. Acredito que o uso exacerbante da tecnologia é só o resultado final, mas antes deste comportamento temos que pensar o que leva as pessoas a recorrerem a isso.

Também devemos pensar no tempo em que perdemos com ela e não no tempo em que ganhamos como uma compra on-line, uma reunião por vídeo conferência, um sistema que se otimizou, um arquivo na nuvem. Com o advento da tecnologia muita coisa mudou, mas não podemos nos perder nela e esquecer do mundo real, não devemos esquecer do diálogo, dos almoços em família, das brincadeiras com as crianças, do olho no olho.

Saber que o novo faz parte das nossas vidas e ter a consciência que o velho pode ser muito bom. Saber equilibrar e ao mesmo tempo, dar lugar à tecnologia e a tradição para as nossas vidas.

 

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